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Condicionamento Pavloviano X Higiene Natural


higiene natural x condicionamento pavloviano imagem de Pavlov senhor de barba branca e um cachorro em experimento

A higiene natural ainda é mal vista por alguns profissionais por uma simples questão de confusão. Bem, existe uma crítica de que a comunicação de eliminação seria negativa por tratar-se de condicionamento. Como esse é um dos pontos mais básicos do conhecimento sobre essa técnica ancestral, precisamos falar sobre isso. Afinal, #higienenatural é ou não é um condicionamento?

A saber, resumidamente, na visão da psicologia, condicionamento Clássico ou Condicionamento Pavloviano (teoria de Ivan Petrovich Pavlov – vencedor do prêmio Nobel de Medicina por pesquisar a fisiologia da digestão) é um tipo de aprendizagem que teve grande influência sobre o Behaviorismo (uma das principais escolas de pensamento da psicologia que foca na compreensão de como se dá o aprendizado de acordo com o ambiente em que o indivíduo está inserido). O Condicionamento, portanto, é um processo de associações entre um estímulo ambiental (ligado ao ambiente, situação) e um estímulo que ocorre naturalmente (ligado às reações, sensações).

Pavlov estudou o comportamento de cães que salivavam ao ver comida (estímulo incondicionado) que passaram a ser estimulados através do toque de uma sineta concomitantemente à oferta da comida e, desta forma, em pouco tempo, mesmo que somente diante do estímulo condicionado (toque da sineta) os cães passaram a salivar também. Primeiramente é importante pensar que se trata de um aprendizado, uma aquisição de condição, que antes era inexistente. Condicionamento diz respeito à “condição”, ou seja, “funciona a partir de”, “depende de”. John Watson quis entender se esse condicionamento descoberto por Pavlov era aplicado a seres humanos e então realizou um estudo de caso com o bebê Albert, onde lhe apresentava estímulos neutros que não desencadeavam nenhuma emoção, como um rato branco, máscaras, um urso de pelúcia, etc. Posteriormente, ao mesmo tempo em que era colocado a frente desses elementos, o bebê era estimulado com altos ruídos sonoros que lhe desencadeavam medo. Em pouco tempo, o bebê passou a apresentar medo dos elementos que antes eram neutros, como o rato e as máscaras. Essa constatação se tornou muito importante, demonstrando que a compreensão do condicionamento Pavloviano é fundamental para o conhecimento das emoções.

Neste sentido, “Todos nós passamos por diferentes emparelhamentos de estímulos em nossa vida. Esses diferentes emparelhamentos produzem o nosso jeito característico de sentir emoções hoje” (MOREIRA e MEDEIROS, 2009). Não restam dúvidas de que aprendemos novos comportamentos reflexos e que eles podem causar efeitos negativos em nossas vidas. Uma das maneiras de perdermos esses novos comportamentos, que aí podem ser classificados como traumas, fobias, medos, manias, vícios, etc. seria através de um contra-condicionamento com sucessivas apresentações de um estímulo condicionado, sem a presença do estímulo incondicionado (por exemplo com a apresentação do rato ao bebê com uma música tranquila, por exemplo), gerando uma extinção respondente. Ou ainda extinguir o trauma ou fobia através de uma dessensibilização sistemática, por exemplo, apresentando gradativa e sistematicamente ao sujeito o objeto do seu medo sem o estímulo incondicionado.

Uma crítica recebida à higiene natural, diz respeito ao fato de que alguns profissionais confundem a prática com condicionamento e estou aqui neste momento rechaçando veementemente essa teoria e vou contestar de maneira objetiva.

Se não, vejamos:

Em primeiro lugar, sempre podemos comparar o ato de evacuar ao ato de alimentar-se. Desta forma, dizer que higiene natural é condicionamento seria o mesmo que dizer que amamentação é condicionamento. Dizer que atender uma necessidade fisiológica básica de evacuação é condicionar o bebê, é o mesmo que dizer que fraldas, um advento da modernidade nunca antes visto, não condiciona o bebê. Dizer que higiene natural é condicionamento e, portanto, negativo para o bebê, é o mesmo que negar todos os demais condicionamentos a que os bebês são submetidos sem prejuízo algum de sua saúde psicológica, como almoçar à mesa ou dormir no escuro.

A higiene natural não pode ser comparada a um condicionamento porque não requer um estímulo incondicionado para a realização da evacuação.

Ou seja, a necessidade de evacuar existe e a evacuação irá existir independente de qualquer outro estímulo. Como no caso da necessidade de alimentação que irá existir independente de qualquer estímulo. Quando o cuidador do bebê proporciona a posição ideal e a liberdade, não se trata de estímulo incondicionado, se trata de uma condição natural do ser humano, da mesma maneira acontece quando a mãe amamenta o filho que tem fome. Porém, essa reflexão se torna ainda mais importante quando pensamos no uso contínuo de fraldas. Pensemos:

O corpo humano foi programado para ter suas necessidades fisiológicas atendidas. A prática da higiene natural está para a evacuação tal qual a amamentação está para a alimentação e qualquer coisa diferente disso sim, que significa condicionamento. Comparando o bebê aos cachorros de Pavlov ou ao bebê Alfred de Watson, o uso de fraldas sim que se torna um estímulo incondicionado, e por essa razão condiciona o bebê a fazer os cocôs em prestações, a ter cólicas, assaduras introduzindo-lhe um hábito que depois precisa ser retirado realizando um trabalho de contra-condicionamento. Conquanto na higiene natural não se impõe um aprendizado para depois modificá-lo, ao contrário, o bebê já cresce com consciência corporal usando o banheiro como algo natural em sua vida, que não precisa ser forçado nem passar por nenhuma fase de aprendizado.

Porém, precisamos pensar mais a fundo e com embasamento para concluir que, ainda que a higiene natural fosse um tipo de condicionamento, nem por isso seria um condicionamento negativo. Afinal de contas, diariamente “coisas se associam a coisas, de forma que umas passam a provocar o efeito de outras, assim, o condicionamento pode ser usado para produzir mudanças de comportamento” (TARGINA, 2013). Inclusive essa situação está nas bases da psicologia e por isso o ambiente e os acontecimentos em torno do ser serão imediatamente responsáveis pela formação deste indivíduo, por isso também seres humanos e animais são tão adaptáveis já que estarão flexíveis ao ambiente em que estão inseridos. Deste modo, Pavlov que era profundo pesquisador das atividades fisiológicas humanas e animais, ao constatar que existe a possibilidade de conectar estímulos ambientais neutros com atividade fisiológica, “deu uma grande contribuição no conhecimento das relações entre o organismo e o ambiente que o rodeia, relação que tem sua origem psicológica e que supera o determinismo biológico” (COLL, 1996 in TARGINA, 2013).


O grande achado de Pavlov demonstra que um comportamento de natureza fundamentalmente psicofisiológica, como a salivação, a secreção hormonal e outros comportamentos chamados involuntários ou de resposta, e que pareciam ser regulados exclusivamente por mecanismos fisiológicos, podiam ser controlados por aspectos ambientais, nos animais superiores e no homem (COLL,1996 inTARGINA, 2013).


Ponto importante dessa discussão: na prática da higiene natural poderemos utilizar o som de urina ou de pigarro para auxiliar na eliminação ou simplesmente não usar. O som entra apenas como um aspecto de auxiliar na concentração e relaxamento do bebê e não para dar qualquer imposição ou associação de concomitância existencial ou interdependência. A grande confusão que gerou críticas à prática da higiene natural, eu acredito agora com o auxílio de Davidoff (2009) está num experimento em que os princípios básicos do condicionamento clássico foram utilizados por pesquisadores comportamentalistas para estudar o treinamento de bebês ao uso do banheiro onde


Um ruído forte era apresentado sempre que uma gota de umidade tocava um sensor costurado dentro da fralda da criança. O ruído, estímulo incondicionado, acaba associado ao estímulo neutro, que é a tensão da bexiga ou intestino cheio (ou estado físico que a precede logo a seguir). O ruído produz uma resposta incondicionada, o susto, que é um alerta para o bebê para as sensações relacionadas à bexiga e ao intestino. Eventualmente, a criança aprende a atender à tensão urinária e intestinal sem o ruído. Essa atenção é a resposta condicionada. Ao sentirem as sensações que assinalam a necessidade de eliminar, ela tende a utilizar o toalete (DAVIDOFF, 2011).


Este ponto exige que tenhamos atenção se quisermos entender porquê afinal, higiene natural não é condicionamento de banheiro já que os estudos dos pesquisadores comportamentalistas que utilizavam o ruído concomitantemente relacionado às evacuações com base nos ensinamentos de Pavlov versavam sobre:

Esperar uma eliminação ser identificada pelo sensor para que em seguida fosse ativado o ruído forte, fazendo assim com que o bebê no susto segurasse suas evacuações e, portanto, com o tempo, a iminência de evacuação gerava susto e os bebês acabavam por ir ao toalete. Primeiro, esse bebê fez uso ininterrupto de fraldas e nunca soube a diferença entre xixi ou cocô nem lhe foram apresentadas suas evacuações, não houve qualquer consciência corporal e, de repente, através do susto espera-se que esse bebê passe a anteceder suas necessidades de evacuação e procure um banheiro. O quadro abaixo ajuda a compreender a diferença desse caso para a higiene natura


Dentre as diferenças cruciais entre a Higiene Natural/Comunicação de Eliminação e o Condicionamento Pavloviano/Treinamento de desfralde está no fato de que a primeira não carece da existência de ruído ou estímulo incondicionado enquanto o segundo carece de estímulos incondicionados. A higiene natural precisa só da necessidade da evacuação em si, ou seja, do que ocorre antes da evacuação acontecer efetivamente, enquanto no treinamento de banheiro com base no condicionamento pavloviano é necessário que ocorra primeiro a própria evacuação, quer dizer, primeiro precisa haver uma evacuação para, no susto, ser travada. A HN não carece de uso anterior contínuo de fraldas e o treinamento carece de uso anterior de fraldas. Na higiene natural o bebê cresce com consciência corporal de forma natural, ir ao banheiro não foi um aprendizado e sim um hábito tal qual se alimentar enquanto no fraldamento tradicional, para o desfralde o bebê não tem consciência corporal e pretende-se dá-la com condicionamento é por isso que na hn antecipa-se às evacuações atendendo-as de forma costumeira enquanto no condicionamento Interrompe-se as evacuações causando impacto além da retirada abrupta das fraldas.


Na prática, como são as mudanças cerebrais?

Há mudanças no cérebro quando há aprendizagem e, consequentemente, quando há formação de categorias, de modo que, o que é aprendido tem de ser representado em uma ou mais áreas do cérebro (KERI, 2003 apud LEFRANÇOIS, 2008) (TARGINA, 2013). ou seja, aprender e desaprender faz parte da própria condição de ser humano, porém, se pudéssemos nos desenvolver com aprendizados empíricos e cognitivos respeitados seria muito mais fácil e menos traumático, como é o caso do condicionamento tradicional onde, após a criação de um hábito impõe-se a sua desconstrução através de novo aprendizado.

Já vimos que esse assunto dá muito pano pra manga, Vamos deixar rolar, ainda falaremos mais sobre isso!



Referências:



DAVIDOFF, Linda L. Introdução à Psicologia. 3ª ed. São Paulo. Trad. Auriphebo Berrance e Mª da Graça Lustosa. McGraw-Hill do Brasil, 2009.

MOREIRA, M. B e MEDEIROS, C. A. Capítulo 2 . Reflexos Inatos, 2009

TARGINO, Magnólia de Lima Sousa. Psicologia da Aprendizagem - Licenciatura em letras – Português./ Magnólia de Lima Sousa Targino./ Pró-Reitoria de Ensino Médio, Técnico e Educação a Distância.- Campina Grande: EDUEPB, 2013. 176 p.: il.: Color




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