O Desmame nosso de cada dia !
- Fernanda Paz
- 20 de fev. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 13 de mar.

Estou sentindo tanta necessidade de falar sobre o desmame que só de pensar nisso já começo a chorar! Não vai ser fácil expressar tudo o que a amamentação prolongada significa nem muito menos o desmamar de mãe e filha!
Conseguimos manter a amamentação prolongada por 3 anos!
2 anos e 06 meses de amamentação em livre demanda.
Então comecei a limitar, limitar, limitar, distrair, acarinhar, brincar, alimentar, até que zeramos as mamadas diurnas aos
2 anos e 10 meses de uma bebê cheia de dobrinhas.
Uma semana sem recaídas, cria bem, então partimos ao desmame noturno.
Limitação, limitação, limitação. Firmeza, acolhimento, choro duplo.
Por alguns bons dias ela não mamou para pegar no sono mas, para isso, eu precisei criar estratégias, como o passeio de bike no final do dia após aquele banho bem demorado, reforço na janta e muito acolhimento (alguns pais usam o carro, eu tinha a bike e uma cadeirinha super confortável pra ela)...
Muito tempo de diálogo, contação de historinhas, distrações, explicações, sinceridade, nada de artifícios. Sempre falando coisas do tipo:
"-Filha, a mamãe sempre amou te dar tetinha, foi uma das coisas mais importantes da minha vida e da nossa história, só que agora não está me fazendo bem, me irrita, me deixa perturbada, eu sinto sentimentos que não gosto e não quero passar pra você!"
Entre outros assuntos que ela sempre prestou atenção e sempre correspondeu, mesmo sem "compreender".
Não foi muito fácil no começo, eu sinto que Serena, se desmamasse naturalmente, iria até os 04/05/06 anos tranquilamente, só que, pra mim, a via de mão dupla havia chegado ao fim.
Amamentar sempre foi um ato de resistência, sempre foi um ato de amor e dor e entrega e vida de aconchego e sutileza.
Parar esse processo foi muito difícil, eu precisei me desmamar primeiro, aceitar, entender.
Como uma grande amiga mencionou na época, o final da amamentação prolongada é como um relacionamento amoroso duradouro que a gente ama muito, mas não dá mais certo junto, então começa naquele vai não vai e termina, mas quando volta vê que realmente não dá mais, sabem?
É bem assim. A gente ama amamentar, sabe que é importante pra cria e pra nós, mas chegamos ao limite, está desgastante, não dá mais aquele prazer que dava antes.
Irrita, cansa, causa maus pensamentos, vontade de pular fora o tempo todo. Então tentamos parar mas, no fundo, não conseguimos, vem a cria toda apegada na tetinha, as soluções mais fáceis são "sampando a teta na boca da cria", aí ficamos naquele processo louco dentro da gente e, no dia a dia, entre a cruz e a espada entre o amor e o ódio.
Ninguém fala dessa angústia da amamentação!
Da irritação insuportável que sentimos muitas vezes quando aquele "bebezão" está sugando a gente!
E, se contrariarmos o nosso íntimo, percebemos que estamos nos fazendo mal, já extrapolamos os nossos limites! Toda aquela relação que era linda e esplendorosa se transforma num martírio.
É por isso que escolhi guiar o desmame e o estou fazendo da forma mais sutil e suave possível, respeitando a nena e as paixões dela, os hábitos de uma vidinha inteirinha e respeitando também os meus limites.
Foi assim que levei quatro meses para o completo desmame diurno e uns dois meses para o completo desmame noturno...
Mas, nesse meio tempo havia ainda uma mamada "até teis" de madrugada que com paciência a substituímos por água...
Lembro que no meio desse processo todo fomos ao centro espírita pra receber cromoterapia e dar aquela alinhadinha nos Chakras e enquanto esperávamos o atendimento, com aquela luzinha neon, aquele cheirinho de anil, aquela musiquinha relaxante, observando a minha cria eu chorei pedindo uma forcinha extra, porque fechar ciclos não é fácil e a amamentação era algo muito forte pra gente.
Ela deve ter sentido, de pronto veio até mim, me abraçou e eu perguntei se ela queria mamar um pouco, ela abriu um sorrisão, mal encostou no seio, parece que estava desaprendendo a mamar mesmo e ficou extremamente feliz só de pegar, cheirar, estar ali no portinho seguro dela. Daí, obviamente, eu fiquei nesse misto entre aceitar que preciso parar pela minha saúde física e mental e aceitar que ela está bem também, que o condicionamento a orientação, o atendimento sou eu que faço.
Estava tudo muito recente ainda pra nós duas, era uma ruptura bem dolorida e ao mesmo tempo uma sensação de missão cumprida.
Confusão total porque parece que ainda deveria fazer um pouco mais, enfim...
Quem passou por isso vai entender e quem vai passar pode lembrar de todas essas palavras que estou dividindo com vocês agora.
Pra mim, escrever é uma forma de terapia.
Passamos a falar mais sobre os sentimentos, sobre vontades e também passamos a dengar ainda mais, brincando, rindo, distraindo....
Assim, lembro do dia em que ela que já não mamava acordando, afinal, um dos nossos primeiros acordos lá no começo para efetivarmos o desmame diurno foi que o bebê não mamaria mais de dia só quando estivesse escuro ou fosse dormir (nisso ela tentava me enganar sim, dizendo que tinha sono, rsrsrs), após todo esse processo que já vinha durando longos meses, eu saí muito antes da cama como tenho feito já que ela anda dorminhoca, ela acordou e chamou, eu fui atender e senti que ela estava assim meio tristonha, olhava pros meus peitos com carinha de dengo, questionei:
"-Filha, você sente saudade de alguma coisa?"
Pensou, virou pro outro lado, olharzinho cabisbaixo:
"-Da teta mamãe, eu sinto saudade da teta!" colocando a mãozinha por cima da minha blusa...
Manteiga derretida já quase chorando perguntei:
"-E você quer mamar um pouquinho na tetinha? Acho que ela também tem saudade!"
Sorriso de orelha à orelha, verbalizou: "-hahahahaha"
E foi imediatamente pro seio mais próximo, beijou, colocou a boquinha, fez glup glup, encostou a mãozinha, mais um beijo, tapou o seio e repetiu o processo no outro, beijinho, glup glup, mãozinha em cima!
Então falou:
"-Quanto eu era um bebê bem pequeno eu mamava muito, mas agora eu sou uma quiança e tomo teta até teis, ou até dois, sabe?"
"-Sei filha, que bom né? Vamos descer? Tá com fome?"
"-Tô com sede, quero fazer xixi e comer também, bora mamãe?!"
"-Bora!"
E assim, parece que efetivamente, aos 3 anos de minha primeira cria, registro o fim do seu processo de amamentação.
Nós conseguimos!!
Atualizando: a amamentação prolongada durou exatos 3 anos por aqui!!
A menina não pega nem gripe porque é super saudável, come EXTREMAMENTE bem, dorme bem e se comunica muito bem!
Resistam mamães! Vai valer a pena!!
Texto de Fernanda Paz, especialista em Higiene Natural, Desfralde, Bebê sem Fralda Brasil
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